sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Casamento à vista

Quando casei, tudo era muito diferente. Tá certo que casei grávida. Naquela época, quanto antes acontecesse as núpcias, melhor. Mesmo que todos soubessem não ficava bem a barriga de grávida aparecer. O que não aconteceu com a minha. Conforme o ângulo, lá estávamos nós – a adolescente inconsequente e irresponsável e meu barrigão de cinco meses. Entre a descoberta do inesperado e o casório foram apenas três meses.
Passados quase 32 anos, minha barriga cresceu mais, nasceu, se criou e hoje está prestes a se casar. Minha filha se tornou uma bela mulher. E vai casar. Virei a mãe da noiva, a sogra. Como da primeira vez, foi sem querer e lá vou eu de novo, rumo à outra festa de casamento na família.
Desta vez, como deve ser. Assim espero.
Minha filha noivou há quase três anos. De lá pra cá, muito se falou sobre o grande dia. Já foi marcado, desmarcado e remarcado. Agora vai. Sem saída para as duas. Ela finalmente vai casar e eu enfrentar tudo o que envolve uma festa de casamento. Tenho uma certa aversão à festas. Talvez trauma seja a palavra mais adequada, afinal, nos meus quinze anos meu avô paterno estava em coma no hospital. Quando casei, duas horas antes de iniciar a cerimônia religiosa, meu avô materno (meu segundo pai) morreu de câncer. Nem preciso dizer que ao longo dos anos evitei casamentos. Comemoro meus aniversários de casamento com jantares intimistas ou viagens a dois.
O casamento da minha filha me coloca frente a frente com um assunto mal resolvido. Certamente com o passar dos anos, a lembrança do meu dia de festa de casamento suavizou, foi racionalizado e intelectualizado sem tristezas.
Acredito que meu avô cedeu seu lugar para meu marido. Acredito também que festa de casamento e casamento são coisas totalmente independentes. Apesar da minha festa de casamento dividir espaço, convidados e atenções com um funeral, meu casamento propriamente dito foi a maior festa. São 32 anos de parceria, altos e baixos, vacas gordas e magras, encontros e desencontros. No balanço, são anos de um casamento feliz e bem sucedido. Por conta disso - meu trauma com festas de casamento e minha concepção do que seja casamento – até tentei outra via: uma cerimônia intimista e uma bela lua de mel. Quase fui fulminada e deserdada com a proposta, tida como indecente e insensível.
Minha filha quer casar em grande estilo. Então mãos à obra!!!!!
Semana que vem ela aterrissa e faz conexão em São Paulo, depois, Rio Grande do Sul. Juntas.
Hora de dar corpo às reservas de igreja, cerimonial, recepção. Hora de definir flores, menu, arranjos, vinhos, docinhos, lista de convidados, convites, som, iluminação, violinos, vestido de noiva, buquê, velas, lembranças, lista de presentes, despedida de solteira, chá de panela ou lingerie........ A parafernália é enorme, assim como as opções. Existe uma indústria casamenteira que gira fábulas para realizar sonhos de noiva princesa.
Mas o que espero verdadeiramente é que a viagem a dois – que é o casamento – seja única, fenomenal, normal, e no somatório de tudo, traga felicidade, satisfação e realização aos noivos.
Quanto a mim – a mãe da noiva – desta vez espero curtir e fazer as pazes com festas. Diferentemente de quando casei, pretendo flutuar pela nave da igreja sem barrigão. Porque meu barrigão de hoje é fruto do pecado da gula. O outro barrigão era o fruto proibido do paraíso, e por isso, exibido com orgulho. Nada de pecados.
Para tanto já iniciei meus preparativos pessoais para o grande dia: dieta, academia e peeling. Vislumbres de uma lipoescultura, prótese ou plástica. São mais de dez anos amadurecendo estes radicalismos. Se não for agora, então, acho que nunca mais.
A ideia é ficar bem na foto. Se bem que me acho linda e plena com meu barrigão em minha festa de casamento e em todas as fotos daquela noite inesquecível. Espero que minha filha esteja assim em seu grande dia, afinal, experiência de entrar exibida e chamativa pela nave da igreja ela já tem.

Um comentário:

  1. Correria e muita animação, não é? vai dar tudo certo e vocês ficarão felizes. abraço.

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