sexta-feira, 15 de julho de 2011

Noite de inverno

A chuva na minha casa
cai fininha e barulhenta,
pingapingapinga
escorrega de mansinho pelo telhado.
Faz um barulhinho único,
pequeno, pipocado e maravilhoso
que dá uma vontade gostosa de dormir, se aninhar, sonhar,
ouvir trovões e relâmpagos.
A chuva engrossa molhando as palmeiras, os ciprestes e a grama.
O silêncio e o breu da noite e a chuva ao fundo.
O cobertor e a coberta, o estalar da lareira
E lá fora a chuva que cai solitária
Me faz companhia aqui dentro.
Numa mão o sisal, a lã e a agulha, na outra, o vinho,
na outra o chá, o livro, a lenha pra queimar
A chuva me envolve e envolve a noite.
Seca e sonora aqui dentro,
Molhada e calada lá fora.
Assim é a chuva na minha casa.

Já o fogo é fogo
Forte, vigoroso e crepitante.
Labareda pura.
A brasa é apenas tapete.
Nada de fogo miúdo e pequeno.
Precisa ser grande
Envolvente e quente.
Cheiro de fumaça de eucalipto, acácia ou pinus.
Cheiro de madeira, prego e cimento.
Cheiro de cigano de tenda no mato.
Cheiro de frio, de calor no inverno.

O vinho é de desentendido
Suave sem dor de cabeça.
Suco de uva com teor alcóolico.
Engana bobo, mas faz a alegria da noite
há muitos e muitos anos.
Na adega é vizinho espaçoso de Dom Melchiors,
Almavivas, Pesqueras.
Chilenos, argentinos, espanhóis e italianos,
Australianos e sul africanos.
Todos divinos.
Meu escolhido de décadas
É um simplório nacional curitibano.
Durigan.

A perfeita noite de inverno na Rua Ceará, 1358, sul do Brasil:
Chuva miúda e sonora.
Fogo crepitante quente e vigoroso.
E vinho de desentendido.

E para completar a perfeição:
Um livro,
uma crônica,
um arraiolo,
uma música,
um gato,
meu GAMV,
beijos,
a noite.....................

Um comentário:

  1. Não há fantasma ou pensamento ruim que sobreviva a uma noite de chuva serena e macia.

    ResponderExcluir