terça-feira, 4 de outubro de 2011

Motoqueira

Estou virando “eira”. Scrapeira, facebookeira, blogueira e agora, de novo, novamente, motoqueira. Depois de 25 anos às voltas com filhos, trabalho, formação acadêmica e outras sériices, resolvi relaxar. Apenas curtir o que a vida oferece. Continuo produzindo muito, mas me permitindo novos vôos.
Conheci meu marido em cima de uma moto. Foi paixão à primeira vista. Por ele e pelas motos. Mas ele insiste em me corrigir: “Motoqueiro é entregador de pizza. Nós somos motociclistas.” Mas prefiro a palavra motoqueira. É mais sonora e me remete ao tempo em que moto era apenas para quem curtia o vento, a natureza, a liberdade. Outros tempos.
Quando compramos a moto, há um ano, nossos filhos foram logo dizendo: estão na meia-idade, o que mais vão aprontar? Logo, logo passaram a dar sermões de pai e mãe: se cuidem, não corram, não vão se matar, cuidado com os carros principalmente com os caminhões, e por aí foi. É claro que nos cuidamos e apenas voamos de moto nos fins de semana, curtindo uma paixão antiga com todo cuidado possível. A dois ou em grupo.
Sábado fizemos nossa primeira aventura num grupo grande. Foram mais de 200 motos (300 motoqueiros?) saindo de São Paulo em direção ao Guarujá, a 135 Km. O destino final. Uma manhã ensolarada, quente e barulhenta. Duzentas motos, a maioria Harley Davidson, de todos tipos, tamanhos e potências fazem um som único, emocionante e ensurdecedor.
Antes de partir, café e “briefing” no ponto de saída. Fomos orientados a como agir em bando, mesmo sendo escoltados nos pontos do trajeto mais movimentados pela polícia rodoviária. As leis do bando se resumiam a: siga o líder, tenha disciplina, respeite as regras e o companheiro e tenha sempre espírito de equipe. Nada de egoísmos e individualismos. As regras são de grupo e todos devem segui-las. Dois dedos levantados orientam a seguir em fila dupla ( melhor se for num X), na faixa lateral à direita da pista. Um dedo erguido orienta a seguir em fila indiana. E lá vamos nós, voar por entre os carros.
E assim fizemos. Tudo transcorreu bem. Na descida da serra sol quente, protetor solar e atenção máxima. Desfile pela orla charmosa do balneário, muitos acenos simpáticos e almoço numa marina elegante. Na volta, como era de se esperar, o bando se dispersou. Alguns ficaram, outros partiram. Porém agora em pequenos grupos. Os 135 Km da volta foram em meio a um grande congestionamento e muita neblina. Nos reagrupamos como um bando de cinco, em cima da balsa que faz a travessia em Bertioga. Quando um foi barrado pela polícia, paramos todos. Éramos um grupo de motoqueiros sem nome. Na hora de se despedir e cada um seguir seu rumo apenas um aceno de cabeça respeitoso e um braço erguido.
Na chegada, a sensação gostosa de um dia especial com um grupo especial. E a constatação de que fiz academia sem perceber: glúteos, lombar, coxas, bíceps, tríceps e até os músculos oculares foram exigidos exaustivamente. Me segurei tanto, freei tanto e apertei tanto os olhos quando em fila indiana ( passar por entre os carros é algo inexplicável: como é que os espelhos retrovisores de carros e motos não se chocam com milímetros de distância?) que cheguei em casa exaurida, moída e dolorida.
Mas acima de tudo, satisfeita.

Um comentário:

  1. Que aventura, Suzete, morro de medo de moto, mas fiz uma viagem de moto uma vez e foi inesquecível. Gostei de ler sua crônica. Espero que o próximo romance esteja a caminho. bjs

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